15 janeiro 2007

"Ver ou não ver" - eis a questão!

É através dos sentidos que o homem tem o privilégio de tomar contacto com o mundo que o rodeia. Daí, a importância dos mesmos nos nossos dias, no desempenho das funções vitais da vida humana.
Considerada por todos o sentido dos sentidos, a visão permite-nos ter uma percepção directa dos objectos, ao mesmo tempo que nos transmite a sua cor, o seu brilho e a sua beleza. Isto não significa que a cegueira seja sinónimo de isolamento ou de distanciamento em relação ao mundo em que vivemos, mas apenas uma limitação no contacto com a natureza e com a sociedade.
Assim, ao contrário do que muitos possam pensar, o cego não é um extraterrestre, alheio a tudo que se passa à sua volta, mas um ser humano que mantém intactas as demais capacidades, sendo mesmo obrigado a reforçá-las a fim de superar, dentro do possível, a sua deficiência.
Impossibilitada de poder contar com este sentido, a pessoa cega recorre normalmente a outros meios e, em especial, aos sentidos do tacto e da audição para conseguir uma reabilitação que lhe permita uma plena integração social.
Vistos como vítimas do infortúnio e desconhecidas as suas capacidades, os cegos representam (para muitos) um pesado fardo para a sociedade, sendo muitas vezes marginalizados e até ignorados em virtude do seu olhar não se cruzar com o olhar compadecido dos demais transeuntes, mas perder-se no egoísmo dominante do mundo dos nossos dias.
Tudo seria diferente se olhássemos de outra forma para quantos vivem à nossa volta procurando ser mais solidários com aqueles que necessitam de uma ajuda, de um gesto de carinho ou de uma palavra de estímulo para continuarem a vencer as adversidades da vida.
Se assim fizermos, estaremos certamente a construir uma sociedade mais justa, mais humana e mais fraterna.

07 janeiro 2007

REFERENDO - aborto ou gravidez de alto risco

Depois de dois verdadeiros abortos que foram os primeiros referendos realizados durante a ainda jovem democracia portuguesa, prepara-se o país para levar ao fim mais uma gravidez de alto risco tendo por objectivo a concepção de nova legislação sobre um tema substancialmente complexo e controverso. Trata-se de uma inseminação artificial indesejada por muitos e que requer todos os cuidados, nomeadamente a marcação de uma cesariana para o próximo dia 11 de Fevereiro.
Apesar do reconhecido envelhecimento da população e da necessidade de aumentarmos a taxa de natalidade, parece-nos arriscada e delicada tal concepção para uma democracia que, apesar de já adulta, revela ainda falta de maturidade a vários níveis para dar à luz tão importante projecto. Os portugueses já demonstraram que não estão preparados, nem motivados para se pronunciarem sobre questões que para além de demasiado complexas, nunca constituíram uma prioridade das suas preocupações.
Será necessária mais uma vitória maciça da abstenção para os nossos políticos tomarem consciência da realidade? Não teremos assuntos mais relevantes para dar a nossa atenção e gastarmos os poucos recursos que temos?
Já que não temos capacidade de concepção, porque não optamos pela adopção? Pela adopção de medidas que se traduzam na melhoria da qualidade de vida dos portugueses.

02 janeiro 2007

LONGA - uma aldeia bem portuguesa

Talvez possa ser suspeito
Ao escrever sobre esta aldeia
Que sempre trouxe no peito,
Apesar de terra alheia.

Vim p'ra cá de pequenino
Era tudo bem diferente...
Era tudo mais velhinho
E morava cá mais gente.

Veio então a emigração,
Tudo se põe a mexer,
Reduz-se a população,
Mas vê-se a aldeia crescer.

Surgem lindas moradias,
Do Cunho até ao Jardim,
P'ra passarem alguns dias
E talvez... mesmo o seu fim.

Situada numa encosta
Voltada p'ra S. Cosmado,
Longa a todos nos mostra
Que foi grande no passado.

A sua igreja matriz,
Cheia de arte e beleza,
Certamente que nos diz,
Que foi obra da nobreza.

Espalhadas pelos campos
Temos algumas capelas,
P'ra venerarmos os Santos,
Cujas vidas foram belas.

S. Miguel e Sto. António,
Os mais queridos, talvez...
Um por afastar o demónio,
Outro por ser português.

Mas a maior devoção
Vai para a Virgem Maria,
Que por alturas do Verão
Tem a sua romaria.