31 outubro 2012

Como os cegos vêem o Mundo


Privados do sentido dos sentidos, os cegos, ao contrário do que alguns pensam, não são alheios ao que se passa no mundo que os rodeia. Pelo contrário, a sua sensibilidade e um maior desenvolvimento dos restantes sentidos, dão-lhes a perceção de pormenores que muitas vezes escapam por completo aos que dispõem de visão.
O ser humano não vê apenas com os olhos, mas também através do tacto, da audição e até mesmo do paladar e do olfato. Sendo a visão um sentido mais abrangente e mais intuitivo, há a tendência de ser super valorizado por aqueles que vêem, em desfavor dos restantes. Porém, estes têm também grande importância podendo mesmo substituir em muitas situações, a própria visão. É possível “ver” que uma peça de roupa está molhada, ou que uma mesa tem pó, utilizando apenas o tacto. Poderemos “ver” que o mar está agitado ou que a água de uma panela está a ferver, apenas através da audição. Ou ainda “ver” o que comemos ou bebemos usando o paladar e o olfato  .
A pessoa cega, não faz mais senão valorizar e explorar ao máximo os sentidos de que dispõe aprendendo a ver as coisas de outra forma.
 Não podendo contemplar com os olhos, as belezas e o colorido que a natureza oferece, os cegos não se distraem com o horizonte visual que os rodeia, concentrando-se e apreciando outros pormenores, por vezes não menos importantes. Apercebem-se com maior facilidade da personalidade e do caráter dos seus interlocutores porque não se prendem com o aspeto físico ou a indumentária dos mesmos. Observam com displicência a forma como ainda são tratados por uma significativa franja da sociedade que por vezes os ignora ou subvaloriza. É frequente ouvirem comentários sobre a sua deficiência, sendo vistos como vítimas do “maior infortúnio”.
Apesar da cegueira ser uma grande contrariedade, a maioria dos cegos aceita-a com naturalidade, não deixando por isso de fazer uma vida normal com momentos de alegria e de tristeza, como acontece com o mais comum dos mortais.
A cegueira não é sinónimo de infelicidade, pois na vida, o que há de mais belo e valioso, os olhos do corpo não podem ver.    

26 setembro 2012

Austeridade deixa país em coma


A vivermos talvez a maior crise económica de que há memória, os portugueses têm sido vítimas de severas medidas de austeridade, tendo em vista a redução drástica da despesa pública. Obrigados a cumprir as metas do défice, impostas pela troika, impõe-se aumentar as receitas e reduzir as despesas. Para isso, fizeram-se cortes nos vencimentos, nos subsídios, nas prestações sociais e aumentaram-se as taxas do IVA e do IRS. Fizeram-se esforços para eliminar alguns organismos e algumas fundações e reduzir encargos com as “parcerias público-privadas. Reduziu-se fortemente o investimento público e o número de funcionários do Estado. Medidas sem dúvida controversas e contestadas pela oposição e pela generalidade dos cidadãos, afetados pela redução do poder de compra e em alguns casos pelo maior flagelo social, o desemprego.
A nossa economia ficou mais fragilizada e o valor das receitas ficou aquém do esperado. O ” paciente” começou a acusar os efeitos secundários de um tratamento demasiado intenso e doloroso que está longe de alcançar os resultados desejados.
Perante o agonizar do ”enfermo”, os partidos e a classe política têm permanecido quase intocáveis sem que alguém proponha a redução do Parlamento, ou uma redução significativa do financiamento dos partidos por parte do orçamento geral do estado. Pelo contrário, foram recentemente aumentados em alguns subsídios.
Os portugueses estão cansados de fazer sacrifícios sem que vejam luz ao fundo do túnel. A economia entrou num verdadeiro estado de coma, insensível, não só aos ruídos gerados à sua volta, mas também às tímidas carícias dadas pelo aumento das exportações. Os antidepressivos vindos de Bruxelas associados a alguns genéricos nacionais, deixaram o país apático, incapaz de produzir riqueza e postos de trabalho.
Que futuro nos espera perante um cenário tão sombrio, em que todos os dias somos ainda mais amedrontados por uma comunicação social empenhada em nos causar insónias e nos tirar o pouco apetite que nos resta?
Sugiro a alteração dos blocos informativos para depois da meia noite, sempre com a bolinha vermelha quando o tema for política nacional. Sugiro que se avance rapidamente com a privatização da RTP, mantendo apenas o 2º canal, sendo este substituído pela RTP memória. Sugiro que o horário nobre dos telejornais seja preenchido pelos “malucos do riso, Charlot ou mister Bean. Sugiro também que o hemiciclo da assembleia da República seja ocupado por uma conceituada companhia de circo e que os jardins de Belém sejam aproveitados para fazer renascer a tradicional feira popular.
Com tais medidas, talvez consigamos salvar um povo que deu novas luzes ao mundo, que venceu Aljubarrota e que um dia fez a revolução dos cravos para que a democracia triunfasse.      

13 junho 2012

Santos Populares


Eis a troika popular,
Que não vem inspecionar,
Nem fazer imposições.
Vem disposta a reinar,
E a poder alegrar,
Nossos tristes corações.

António, casamenteiro,
Não nos vem trazer dinheiro,
Mas boa disposição.
Nascido em Portugal,
Tem na nossa capital,
A mais nobre devoção.

A seguir, vem o João,
Por certo o mais folião,
Com tradições mais a norte.
Festejado em aldeinhas,
Tem sempre nas fontainhas,
A sua festa mais forte.

Pedro será mais discreto,
De todos o mais correto,
Não ser porteiro do Céu!
Não poderá nestes dias,
Meter-se em grandes folias,
Arriscando-se a ser réu.

António, Pedro e João,
São os homens de ação,
Que nos vêm defender.
Não querem grandes reformas,
Mas tudo dentro das normas,
Para tradição se manter.

Bastam grandes sardinhadas,
Em noites bem animadas,
Para esquecer a tristeza.
Marchas muito coloridas,
Com jovens bem divertidas,
Onde não falta a beleza.

Não faltam os manjericos,
E o cheiro dos petiscos,
E as lendárias farturas,
Que nos deixam consolados,
Com bailes bem animados,
Fazendo grandes loucuras.

Não há cortes, nem aumentos,
Mas sim felizes momentos,
Repletos de alegria,
Jamais falta a animação,
Com boa disposição,
Nestas noites de magia.

São os santos mais queridos,
Também os mais divertidos,
Que ocupam os altares,
A troika mais interessante,
E também mais importante,
Os santinhos populares.

05 junho 2012

Que seleção... para o Europeu


Estamos à porta de mais um campeonato da europa, competição a que nos habituamos a estar presente nas últimas edições.
Recheados de jogadores de indiscutível qualidade, vedetas nas principais constelações do desporto rei, a equipa de todos nós nem sempre tem demonstrado o seu valor, oscilando ao longo das provas, numa indesejável irregularidade capaz de nos surpreender com o ótimo e o péssimo. Temos ainda bem presentes as recentes fases de apuramento em que tivemos de sofrer até ao último minuto.
Depois de 2 desafios de preparação em que a nossa seleção esfriou todo o entusiasmo à sua volta, com resultados e exibições nada condicentes com a sua real valia, o que esperar no 1º jogo frente a uma das principais favoritas, a poderosa Alemanha?
Apesar de dois maus ensaios, vamos iniciar a prova em igualdade de circunstâncias, com o mesmo número de jogadores e o mesmo número de pontos. Penso, que este fraco prelúdio, poderá até ser positivo para a equipa das quinas, possivelmente vista pelos adversários como menos poderosa como aliás já o fez a imprensa alemã. Por outro lado, a derrota com a Turquia terá espicaçado o orgulho dos jogadores lusitanos que em conjunto com a equipa técnica, certamente vão fazer as correções necessárias no sentido de não defraudarem o entusiasmo e a esperança dos portugueses.
Estou convicto que depois da tempestade, que foram os jogos de preparação, virá a bonança com uma estreia auspiciosa e uma presença condigna da nossa seleção. 

Sou português… Viva PORTUGAL!       

06 maio 2012

A sina de ser campeão!

Celebramos há poucos dias o 30º aniversário de Jorge Nuno Pinto da Costa, como presidente do “mui nobre leal e quase invicto”, F.C. do Porto.
É de facto fantástica a carreira desportiva deste verdadeiro dinossauro do nosso futebol, com um record de troféus soberbo e inigualável.
Pinto da Costa fabricou uma autêntica máquina de fazer títulos nas diversas modalidades e nos mais variados escalões. Vestir de azul e branco com um dragão ao peito, ou orientar alguma das suas equipas, é correr sérios riscos de ser campeão. É exemplo disso, o recente campeonato conquistado pela equipa de futebol, que após ter substituído o seu treinador pelo seu adjunto e com uma pré-época algo conturbada, conseguiu superiorizar-se aos seus adversários e assegurar o título a duas jornadas do fim.
Nas ditas modalidades amadoras, o clube nortenho também não tem deixado os seus créditos por mãos alheias, garantindo no passado fim de semana o tetra no andebol, ainda com possibilidades de conquistar o 11º título consecutivo no hóquei em patins, e bem posicionado no basquetebol para ser bicampeão.
Estão por isso de parabéns todos quantos fazem parte deste notável e grandioso clube, que tão bem nos tem representado além fronteiras e tantas alegrias têm proporcionado aos seus adeptos e simpatizantes.
Nunca será demais enaltecer a figura carismática e preponderante do seu presidente, sem dúvida a pedra angular deste fenómeno desportivo que se escreve com três letras: F.C.P. 

04 abril 2012

Da família tradicional à família dos nossos dias


Considerada desde há muito a célula base da sociedade, a Família tem vindo a sofrer alterações constantes ao longo dos tempos, face às mutações operadas nas últimas décadas a nível social.
Em tempos mais remotos, a mulher não dispondo da emancipação que hoje possui, nem tendo necessidade de trabalhar, dado o sustento da casa ser possível apenas através do braço do homem, esta dedicava-se exclusivamente ao lar e à educação dos filhos.
Com o decorrer dos anos a mulher foi obrigada a ter um papel mais activo conseguindo a emancipação que ambicionava. Deixou então de se dedicar exclusivamente às lides domésticas, para ter a sua actividade profissional e o seu convívio social. Os filhos passaram a ficar desde tenra idade, nos infantários, os mais idosos tiveram de deixar a sua casa, para ingressarem nos lares de terceira idade, enfim, tudo se alterou a favor da promoção sócio-profissional da mulher e das melhores condições económicas do casal.
Mais uma vez o materialismo e a promoção social, falaram mais alto do que o acompanhamento e apoio familiar em relação a pais e filhos.
Apesar de algumas vantagens neste novo modelo, muitas foram as consequências negativas que vieram gradualmente alterar o espírito de família. Os divórcios passaram a ser mais frequentes e normais, os casamentos mais raros , dando lugar às uniões de facto, passaram a ser legais os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, os filhos passaram a ter um acompanhamento alternativo, face à separação dos seus progenitores e os nossos velhinhos entregues a estranhos, nem sempre com o carinho que a idade justifica.
A família ficou deste modo, desmembrada com maior prejuízo para as crianças e os mais idosos.
Passamos assim a ter uma sociedade à imagem das nossas famílias, onde cada vez é menor o respeito e a solidariedade  pelo nosso semelhante, em que os nossos idosos são desprezados ou mesmo abandonados e em que os nossos jovens são simplesmente deitados às feras, sem qualquer apoio e sem qualquer garantia de trabalho.
Vivemos assim numa verdadeira selva onde apenas sobrevive o mais forte. 

08 março 2012

Que mais escrever sobre a Mulher?


Todos os anos escrevo sobre este tema, neste dia 8 de Março. Apesar de ser um assunto inesgotável, parece-me despropositado fazê-lo neste dia, pois penso já não se justificar a existência do dia internacional da mulher, tal como sempre aconteceu com o homem.
Criaram-se os dias internacionais para chamar a atenção para realidades por vezes descriminadas ou simplesmente ignoradas. Foi assim com a mulher quando esta era vista e tratada como o sexo fraco. Felizmente, hoje a realidade é substancialmente diferente, estando ao mesmo nível do homem dispondo dos mesmos direitos, das mesmas oportunidades e dos mesmos deveres.
Ao celebrarmos o seu dia internacional, estamos a usar de descriminação positiva, colocando a mulher num patamar de inferioridade que não corresponde à posição de destaque que hoje ocupa na sociedade.
Com exceção feita à super conservadora e tradicional Igreja Católica e a escassos setores profissionais, encontramos elementos do sexo feminino nas mais variadas profissões, muitas vezes em lugares de chefia.
Será normal continuar a haver menor representatividade feminina em algumas áreas, em virtude da mulher não estar tão vocacionada para elas, o que aliás, também acontece com o homem.
Homem e mulher nunca serão iguais, o que perderia todo o encanto da vida, mas sim o complemento um do outro. Ambos são diferentes na sua fisionomia, na sua sensibilidade e nos seus interesses. Terão de se respeitar um ao outro como pessoas íntegras num plano de igualdade.    

21 fevereiro 2012

Um país semi mascarado!


Num país que vive durante todo o ano um verdadeiro carnaval, com corruptos fantasiados de gente de bem, de pedófilos disfarçados de pessoas íntegras e criminosos bem engravatados, detentores de posições de destaque, decidiu o governo não conceder tolerância de ponto neste dia que antecede um longo período de reflexão e penitência, que é a Quaresma.
No carnaval, os mais foliões, dão largas ao seu entusiasmo mascarando-se, cometendo por vezes, alguns excessos, talvez porque as semanas seguintes convidam a uma maior introspeção e a um maior recolhimento. Por ser essa a prática normal ao longo da maioria dos dias do ano, o conselho de ministros decretou que os portugueses trabalhassem, pois o estado da nossa economia não permite mais veleidades. Porém, alguns desses foliões, discordando da decisão governamental, talvez mais preocupados com a sua popularidade do que, com a recuperação das nossas finanças, deliberaram que devíamos venerar o “S. Entrudo”.
Ficamos assim com o país partido em dois: De um lado, os mais submissos e responsáveis e do outro lado os mais rebeldes e populistas.
Mais uma vez, alguns insubordinados contribuíram para que os funcionários deste país, não recebessem o mesmo tratamento. Os mais cumpridores a trabalhar e os desobedientes a gozar um dia de descanso.
Se existiam dúvidas sobre a nossa constante vivência carnavalesca, este episódio de contra poder por parte da maioria das autarquias, é bem demonstrativo da nossa imaginação em brincadeiras de carnaval.   

13 fevereiro 2012

Haja tolerância!

Sou funcionário público e por isso obrigado a trabalhar no dia de carnaval, salvo, o meu Presidente fure a disciplina governamental, como aliás vai acontecer em muitas autarquias do país.
Não estranhei a posição assumida pelo nosso Primeiro-ministro, pois outra coisa não seria de esperar em tempo de crise e de grande austeridade que nos obrigou a despromover 4 feriados, com bastante mais significado.
Condenados com pena suspensa pela troika, não seria bem aceite a nossa displicência em relação à falta ao trabalho num dia que além de não ser feriado, não tem grande tradição no nosso país, com exceção feita a uma mão cheia de Municípios. Nestes casos, parece-me sensata a tolerância dada pelas respetivas Câmaras Municipais.
Não residindo em nenhum desses concelhos, estou à vontade para discordar das inúmeras críticas dirigidas ao Governo por não conceder a habitual tolerância de ponto.
O argumento de grandes investimentos feitos em algumas localidades onde o carnaval tem tradições, não é razão para adiar para o próximo ano a abolição da mesma tolerância, pois poderão comemorar e fazer os habituais desfiles, no domingo gordo, como já acontecia no passado. Além disso, nunca houve a garantia de que o carnaval seria dia de descanso.
Julgo ser exagerada e despropositada a decisão de algumas autarquias onde não se festeja o Entrudo, de contrariarem a deliberação aprovada em concelho de ministros.
Deveríamos estar em sintonia e evitar que nesse dia, os portugueses trabalhassem ou não, em função da submissão ou rebeldia dos executivos municipais.
Haja mais tolerância em relação a quem está empenhado em que sejamos mais produtivos, para mais depressa podermos sair desta crise.