24 agosto 2013

A "profissão" de ser cego!

Não sendo considerada, como é óbvio, uma profissão, a cegueira, para quem a quer viver plenamente integrado socialmente, constitui um dos mais difíceis ofícios dada a complexidade de que se reveste. Não sendo remunerada, pelo menos de uma forma sustentável, exige a acumulação com uma atividade que permita ao cidadão uma vida digna, com acesso pelo menos às necessidades básicas do ser humano.
Dotada de algumas limitações, maiores ou menores consoante a reabilitação e/ou a aprendizagem que usufruiu, a pessoas cega parte para este desafio numa posição altamente desvantajosa em relação aos restantes candidatos. Obrigado a superar-se a si próprio, nas mais variadas valências, raramente é reconhecido pelas suas capacidades, sendo normalmente visto como incapaz de desempenhar cabalmente a sua profissão, não lhes sendo dadas muitas vezes, oportunidades de as demonstrar. As suas dificuldades começam logo ao acordar, impossibilitado de ao abrir a janela do seu quarto poder contemplar as maravilhas do romper da aurora com o esplendor do raiar do astro rei e de toda a beleza que a natureza nos oferece diariamente, com alternância de cenários mediante a estação do ano em que nos encontramos. Depois de cumpridas as tarefas respeitantes à sua higiene pessoal, normalmente facilitadas pela rotina de que se revestem, surge novo desafio, mais ou menos dificultado em função da residência e do local de trabalho, com o desbravar do reboliço das nossas vilas e cidades, onde raramente se pensa naqueles que dispõem de algumas dificuldades de mobilidade. O acesso aos transportes públicos, o atravessar de vias bastante movimentadas e essencialmente a frequente surpresa de obstáculos nas mais diversas artérias, traduzem-se num risco e esforço de concentração redobrados para quem necessita de chegar a horas ao seu emprego.
Cumprida a 1ª fase deste ingrato ofício, que será complementado no final do dia, com o regresso a casa, o cego vai ocupar-se da sua real profissão, sempre com o peso nos seus ombros, de não desiludir os seus chefes e se possível, surpreendê-los favoravelmente.
Não raras vezes, são vítimas de descriminações e comentários sobre o seu infortúnio, tendo de estar preparados para a insensibilidade e falta de cultura de uma ainda grande franja da população portuguesa que ainda os vê como seres diferentes e inferiores, dada a deficiência que possuem.
Limitados também na suas atividades de lazer, são as barreiras sociais, sem dúvida  as mais difíceis de ultrapassar, pois dependem essencialmente da mentalidade dos cidadãos em relação à problemática da cegueira, embora os cegos tenham um papel importante neste domínio, demonstrando as suas reais capacidades.   
Esta “profissão” apesar do seu elevado risco e de um inqualificável número de obstáculos refletidos no dia a dia, nem por isso tem direito a reformas antecipadas, sendo escassos os benefícios a que têm direito, face à situação ingrata e desvantajosa em relação aos demais e às dificuldades que têm de enfrentar a cada momento.

São as desvantagens e consequências de fazer parte de uma minoria sem poder reivindicativo e sem qualquer estatuto, esquecida como tantas outras, por aqueles que felizmente nunca tiveram de exercer tal “profissão”.

Solidão

Solidão é andar sozinho
No meio da multidão,
E não saber a razão
Porque não tem um carinho.

É sentir tudo distante,
Sem conseguir alcançar
Alguém que se possa amar
De uma forma apaixonante.

É pensar não ter ninguém,
Que possa estar a seu lado
P’ra morrer mais amparado,
Na ausência de sua mãe.

É viver desiludido
Com as mágoas do passado,
Que nos deixam isolado
E muito mais deprimido.

É não sentir amizades
P’ra poder desabafar,
 E Quem nos possa ajudar
Nas nossas necessidades.

É viver no alto mar,
Com o céu no firmamento,
Tendo só no pensamento
O medo de naufragar.

É viver numa prisão
Sem muros nem cadeados,
Onde estamos amarrados
Sem ver a libertação.

É sentir-se desprezado
Por colegas e amigos
Que já estão esquecidos
Das memórias do passado.

É sentir-se preterido,
Por mais algumas paixões,
Que são sempre as opções,
E nos deixam esquecido.

Para aquele que seja crente,
A solidão é ilusória,
Porque terá na memória,

 Deus estar sempre presente.

21 agosto 2013

Mais um pontapé de saída...

No passado fim de semana, deu-se o pontapé de saída de mais um campeonato nacional de futebol das equipas mais representativas do nosso desporto rei. É o fervilhar de emoções, fruto da incerteza dos resultados, em que nem sempre ganha o mais forte, o que faz deste desporto o mais atrativo e competitivo, não só no nosso país, bem como na maioria dos países do mundo.
Este fenómeno desportivo, cada vez mais industrializado, que arrasta atrás de si exorbitantes quantias e verdadeiras multidões, é sem dúvida uma das maiores paixões dos portugueses, que adeptos fervorosos dos seus clubes, esperam ansiosamente pelos resultados das suas equipas e respetivos adversários, numa luta semanal, na busca de alcançarem o maior número de pontos.
Numa prova pouco competitiva, dada a vertiginosa diferença de orçamentos e consequentemente de infraestruturas desportivas, o nosso campeonato divide-se em 3 escalões: os dois eternos candidatos ao título, um pequeno grupo que procura chegar à Europa e o grande grosso do pelotão que luta pela permanência.
Invadido por jogadores das mais variadas nacionalidades, face à incapacidade económica em segurar as nossas melhores vedetas, o que nos obriga a transferências para os clubes mais poderosos, procuramos assim tirar dividendos para suavizar os nossos elevados défices.
Parece-me contudo, pouco se apostar nos nossos jovens, muitos deles com provas dadas nos escalões inferiores, por vezes aproveitados por equipas estrangeiras outras vezes, desaparecendo simplesmente da alta-roda do futebol português.
Apesar de ter vindo a ser cada vez mais desvirtualizado este desporto, com vencimentos que são verdadeiros atentados à pobreza e particularmente à situação económica que se vive no nosso país e em vários países europeus, o futebol português desfruta mesmo assim, de duas grandes virtudes: ser um dos principais embaixadores de Portugal no mundo, através da classe indiscutível de alguns dos seus técnicos e jogadores, bem como se afirmar como uma das principais distrações e escapes dos seus aficionados num cenário bastante sombrio em que somos diariamente invadidos nas nossas casas, por notícias pouco animadoras, por vezes, mesmo carregadas de algum dramatismo.

 Por isso: Viva o futebol português!       

13 agosto 2013

Funcionários de escolas, os primeiros sacrificados!

É indiscutível que, face a inúmeros erros de anteriores governos, o país dispõe atualmente de um número exagerado de funcionários públicos. Com a nação a viver uma das maiores crises económicas e financeiras, será inevitável reduzir e racionar o contingente dos servidores do Estado.
O avanço da tecnologia, a baixa de natalidade, bem como o encerramento de alguns serviços, teria obrigatoriamente de se traduzir numa redução de efetivos.
Mas será apenas nas escolas que existe pessoal em excesso? Não estarão as autarquias bem como outros serviços de outros ministérios em situações mais flagrantes e com trabalhadores muito mais bem pagos do que aqueles que pouco mais recebem do que o salário mínimo?
Não teremos também deputados, vereadores, chefes de gabinete e outras chefias a mais, onde a redução dos mesmos se traduziria numa poupança muito maior, com efeitos bem mais significativos no orçamento geral do estado?
Não estará o governo a cortar as unhas demasiado rentes, colocando em causa a qualidade do ensino público, com o aumento de alunos por turma e menos meios humanos para vigilância dos nossos filhos? 
 Quer queiramos ou não, os mais pequenos continuam a ser os primeiros a ser sacrificados.

Ficaremos a aguardar que esta política de contenção não fique por aqui sendo também abrangente à classe política e às nossas autarquias, onde continuam a prevalecer o clientelismo e a sedução ao voto.