A vivermos talvez a maior crise
económica de que há memória, os portugueses têm sido vítimas de severas medidas
de austeridade, tendo em vista a redução drástica da despesa pública. Obrigados
a cumprir as metas do défice, impostas pela troika, impõe-se aumentar as
receitas e reduzir as despesas. Para isso, fizeram-se cortes nos vencimentos,
nos subsídios, nas prestações sociais e aumentaram-se as taxas do IVA e do IRS.
Fizeram-se esforços para eliminar alguns organismos e algumas fundações e reduzir
encargos com as “parcerias público-privadas. Reduziu-se fortemente o
investimento público e o número de funcionários do Estado. Medidas sem dúvida
controversas e contestadas pela oposição e pela generalidade dos cidadãos,
afetados pela redução do poder de compra e em alguns casos pelo maior flagelo
social, o desemprego.
A nossa economia ficou mais
fragilizada e o valor das receitas ficou aquém do esperado. O ” paciente” começou
a acusar os efeitos secundários de um tratamento demasiado intenso e doloroso
que está longe de alcançar os resultados desejados.
Perante o agonizar do ”enfermo”,
os partidos e a classe política têm permanecido quase intocáveis sem que alguém
proponha a redução do Parlamento, ou uma redução significativa do financiamento
dos partidos por parte do orçamento geral do estado. Pelo contrário, foram
recentemente aumentados em alguns subsídios.
Os portugueses estão cansados de
fazer sacrifícios sem que vejam luz ao fundo do túnel. A economia entrou num
verdadeiro estado de coma, insensível, não só aos ruídos gerados à sua volta,
mas também às tímidas carícias dadas pelo aumento das exportações. Os
antidepressivos vindos de Bruxelas associados a alguns genéricos nacionais,
deixaram o país apático, incapaz de produzir riqueza e postos de trabalho.
Que futuro nos espera perante um
cenário tão sombrio, em que todos os dias somos ainda mais amedrontados por uma
comunicação social empenhada em nos causar insónias e nos tirar o pouco apetite
que nos resta?
Sugiro a alteração dos blocos
informativos para depois da meia noite, sempre com a bolinha vermelha quando o
tema for política nacional. Sugiro que se avance rapidamente com a privatização
da RTP, mantendo apenas o 2º canal, sendo este substituído pela RTP memória. Sugiro
que o horário nobre dos telejornais seja preenchido pelos “malucos do riso,
Charlot ou mister Bean. Sugiro também que o hemiciclo da assembleia da República
seja ocupado por uma conceituada companhia de circo e que os jardins de Belém
sejam aproveitados para fazer renascer a tradicional feira popular.
Com tais medidas, talvez
consigamos salvar um povo que deu novas luzes ao mundo, que venceu Aljubarrota
e que um dia fez a revolução dos cravos para que a democracia triunfasse.
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