Privados do sentido dos sentidos,
os cegos, ao contrário do que alguns pensam, não são alheios ao que se passa no
mundo que os rodeia. Pelo contrário, a sua sensibilidade e um maior desenvolvimento
dos restantes sentidos, dão-lhes a perceção de pormenores que muitas vezes
escapam por completo aos que dispõem de visão.
O ser humano não vê apenas com os
olhos, mas também através do tacto, da audição e até mesmo do paladar e do
olfato. Sendo a visão um sentido mais abrangente e mais intuitivo, há a tendência
de ser super valorizado por aqueles que vêem, em desfavor dos restantes. Porém,
estes têm também grande importância podendo mesmo substituir em muitas
situações, a própria visão. É possível “ver” que uma peça de roupa está
molhada, ou que uma mesa tem pó, utilizando apenas o tacto. Poderemos “ver” que
o mar está agitado ou que a água de uma panela está a ferver, apenas através da
audição. Ou ainda “ver” o que comemos ou bebemos usando o paladar e o
olfato .
A pessoa cega, não faz mais senão
valorizar e explorar ao máximo os sentidos de que dispõe aprendendo a ver as
coisas de outra forma.
Não podendo contemplar com os olhos, as
belezas e o colorido que a natureza oferece, os cegos não se distraem com o
horizonte visual que os rodeia, concentrando-se e apreciando outros pormenores,
por vezes não menos importantes. Apercebem-se com maior facilidade da personalidade
e do caráter dos seus interlocutores porque não se prendem com o aspeto físico
ou a indumentária dos mesmos. Observam com displicência a forma como ainda são
tratados por uma significativa franja da sociedade que por vezes os ignora ou
subvaloriza. É frequente ouvirem comentários sobre a sua deficiência, sendo
vistos como vítimas do “maior infortúnio”.
Apesar da cegueira ser uma grande
contrariedade, a maioria dos cegos aceita-a com naturalidade, não deixando por
isso de fazer uma vida normal com momentos de alegria e de tristeza, como acontece
com o mais comum dos mortais.
A cegueira não é sinónimo de
infelicidade, pois na vida, o que há de mais belo e valioso, os olhos do corpo
não podem ver.
2 comentários:
Muito bom artigo Zé Luís!
Rui, Budapeste
Muito bom falo tudo!
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