09 abril 2014

Um cravo a murchar

A celebrarmos em breve 4 décadas da denominada “revolução dos cravos”, em que nasceu a esperança de vivermos em democracia, afastando assim a ditadura fascista que tantas vidas nos ceifou na guerra colonial e a tantos maus tratos sacrificou aqueles que discordavam do regime, sentimo-nos severamente frustrados e desiludidos pela forma como foi feito este   trajeto e a situação calamitosa a que nos conduziu.
Vários governos se sucederam, nenhum isento de culpas e com as oposições empenhadas em destruir na luta permanente pelo poder.
 Esbanjaram-se apoios e subsídios para modernizar a nossa agricultura e a nossa indústria.
Desperdiçaram-se recursos e apostou-se em projetos megalómanos, alguns que felizmente não passaram do papel, mas que se traduziram num prejuízo de centenas de milhões de euros.
A Nação passou a viver acima das suas possibilidades, desde o cidadão comum até ao próprio Estado.
Aderimos à moeda única, o que nos deixou dependente financeiramente do BCE impedidos assim de recorrer à desvalorização da nossa moeda.
Aumentou-se o fosso entre pobres e ricos, enquanto se foi destruindo a classe média.
Os políticos aumentaram o seu descrédito face ao aumento da corrupção e às promessas não cumpridas pelos seus líderes, refletindo-se no aumento da abstenção, sem dúvida a grande vencedora dos últimos atos eleitorais.
Vivemos assim, uma democracia imatura apesar dos seus quarenta anos de existência, bem como uma situação económica financeira de que não há memória.
Face a tudo isto, que festejar no seu aniversário quando os portugueses já nem sequer têm folgo para soprar às velas e nem sequer vai haver bolo para repartir uma migalha por cada um?
Não sendo saudosista, nem adepto do anterior regime, penso pouco ou nada existir relativamente ao espírito de abril, pelo que talvez seja de refletir sobre a permanência do feriado do próximo dia 25.

Resta um ramo de cravos murchos que traduzem o sentimento atual de um povo que deu novos mundos ao mundo, que venceu Aljubarrota e que implantou a democracia, mas que não soube cuidar dela.         

Sem comentários: